Deputado quer São Mateus com título de “Capital Estadual do Petróleo e Gás. O município onde começou a nova fase econômica do Espírito Santo, baseada na extração de óleo para produção de combustíveis, vai ser, finalmente, reconhecido, depois de seis décadas. São Mateus, a 204 quilômetros de Vitória, quase na divisa com a Bahia, receberá o título de “Capital Estadual do Petróleo e Gás”.
É o que pretende o deputado estadual Mazinho dos Anjos (PSDB), presidente da Frente Parlamentar do Desenvolvimento Econômico e Social do Noroeste e Extremo Norte, que protocolou na Assembleia Legislativa o Projeto de Lei 31/2024 dando a São Mateus essa honraria em homenagem a tudo o que aconteceu no setor no município, que hoje detém também a maior diversificação agrícola do Estado.
“São Mateus é um gigante prestes a despertar de um sono. Além de sua história de quase 500 anos (os primeiros colonizadores portugueses chegaram em 1544), terá agora um título que será o reconhecimento pela influência dessa atividade, que começou em seu território, para a nova fase de prosperidade econômica do Espírito Santo”, disse Mazinho.
O Projeto de Lei 31/2024 acrescenta item ao Anexo I da Lei 10.974/2019, que consolidou a legislação em vigor referente à concessão de títulos em homenagem a municípios do Estado do Espírito Santo, para conferir a São Mateus o título de Capital Estadual de Petróleo e Gás.
HISTÓRIA
Ao justificar a iniciativa, o deputado Mazinho dos Anjos resgata a história da exploração de petróleo no Espírito Santo registrando que São Mateus foi onde o óleo jorrou pela primeira vez, em 1967, na localidade de Nativo, quando São Mateus contava com apenas 40 mil habitantes. Apesar dessa experiência, somente em 1969 começou a exploração comercial com a abertura de outro poço que deu início à produção terrestre no Estado.
A produção de Petróleo no Brasil é realizada em nove bacias petrolíferas, das quais quatro merecem destaque: as bacias de Campos, de Santos, do Espírito Santo e do Recôncavo Baiano. O petróleo mudou a Geografia do Espírito Santo e São Mateus foi o principal destaque, com a instalação da Petrobras em seu território.
Com a chegada da Petrobras, três décadas depois, em 2000, São Mateus mais que havia dobrado de tamanho e somava 90.460 habitantes e, no último censo, em 2022, o município já tem a terceira maior população do interior do Estado, somando 123.750 moradores, atrás apenas de Cachoeiro de Itapemirim e Linhares.
BACIAS
De acordo com informações da Petrobras, há duas bacias sedimentares no Estado : a Bacia do Espírito Santo, que se estende por terra e mar na região que vai da capital à divisa com a Bahia, e a porção norte da Bacia de Campos, que transpassa nossa divisa ao sul do Estado estendendo-se por mar até as proximidades de Vitória (ES).
As atividades da Petrobras em terras capixabas tiveram início em setembro de 1957, quando a empresa, fundada em 3 de outubro de 1954, contava apenas quatro anos de existência e a equipe gravimétrica EG-10 chegou à região norte do Espírito Santo para realizar os primeiros estudos exploratórios.
O primeiro poço terrestre foi perfurado somente dois anos mais tarde, em 1959, em Conceição da Barra (ES), sem que o óleo jorrasse. Em mares capixabas, outra página importante da história da Petrobras foi escrita em 1968, quando a empresa perfurou seu primeiro poço na plataforma continental, também em São Mateus (ES). Não foi encontrado óleo, mas essa experiência pioneira de perfuração marítima serviu de aprendizado e marcou o início do desenvolvimento da sua maior vocação.
O primeiro poço produtor de petróleo em mares capixabas foi descoberto em 1977, a uma distância de sete quilômetros da costa e numa lâmina d’água de apenas 19 metros. A produção marítima teve início no ano seguinte, com a plataforma de Cação, nome dado àquele campo produtor.
Com as vastas reservas de óleo e gás na Bacia de Campos, na costa do Rio de Janeiro, descobertas na década de 1970, a Petrobras concentrasse seus investimentos nessa região produtora e, nas duas décadas que sucederam, a exploração no Espírito Santo permaneceu voltada à produção em terra e águas rasas, mantendo uma média histórica de apenas 20 mil barris de petróleo por dia.
Mas esse panorama mudaria radicalmente com a introdução de novas tecnologias exploratórias, que permitiam escavar poços cada vez mais profundos. A perfuração, em 1999, do primeiro poço em águas profundas no sul do Estado, e as descobertas marítimas que se seguiram na região central do Espírito Santo, atraíram cada vez mais a atenção e os esforços da empresa estatal de petróleo, nascida do movimento nacionalista “O Petróleo é Nosso”.
Um marco histórico fruto desse esforço veio em 2008, quando o navio-plataforma P-34 produziu, em caráter experimental, o primeiro óleo da camada pré-sal no Brasil, no litoral sul do Espírito Santo — teste esse que, dois anos após, em 2010, culminou na primeira produção comercial de óleo e gás da camada pré-sal no país, com o navio-plataforma FPSO Capixaba.
Foi o início da grande escalada da produção de petróleo e gás no Estado. A produção de óleo, que em 2008 alcançou a média de 116 mil barris diários, triplicou nos sete anos seguintes.
GÁS
Em 2012, a produção de GLP (gás de botijão) superou a demanda interna e o Espírito Santo passou a exportá-lo para outros estados. Em 2014, a produção média de Gás Natural superou pela primeira vez a marca dos 10 milhões de metros cúbicos por dia. E em 2022, a empresa completou 65 anos de atuação no Estado.
Nos últimos anos, a Petrobras mudou suas estratégias e, em dezembro de 2021, concluiu a venda de sua participação em 27 campos terrestres localizados no Espírito Santo, em São Mateus. Juntos, esses campos formam o chamado Polo Cricaré. A nova dos ativos passou a ser a Karavan SPE Cricaré – formada pela Karavan O&G e Seacrest Capital Group.
A transação foi concluída com o pagamento de US$ 27 milhões para a Petrobras, já com os ajustes previstos no contrato. Esse valor se soma ao montante de US$ 11 milhões pagos à estatal na assinatura do contrato de venda, ocorrida em agosto. O acordo entre as empresas prevê ainda o desembolso de mais US$ 118 milhões em pagamentos contingentes relacionados a preços futuros do petróleo.
O Polo Cricaré é composto pelas seguintes concessões: Biguá, Cacimbas, Campo Grande, Córrego Cedro Norte, Córrego Cedro Norte Sul, Córrego Dourado, Córrego das Pedras, Fazenda Cedro, Fazenda Cedro Norte, Fazenda Queimadas, Fazenda São Jorge, Guriri, Inhambu, Jacutinga, Lagoa Bonita, Lagoa Suruaca, Mariricu, Mariricu Norte, Rio Itaúnas, Rio Preto, Rio Preto Oeste, Rio Preto Sul, Rio São Mateus, São Mateus, São Mateus Leste, Seriema e Tabuiaiá. A produção média dessas áreas de janeiro a novembro de 2021 foi de cerca de 1,3 mil bpd de óleo e 15,4 mil m3/dia de gás.
NOVA FASE
De acordo com a coordenadora do setor de petróleo e gás do Sebrae-ES, Ana Karla Macabu, o mercado tem se mostrado bem atrativo, estando em torno de 25% do PIB capixaba e tem uma grande representatividade.
O Espírito Santo ocupa a terceira posição entre os maiores produtores de óleo e gás natural no país, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP). A exploração do petróleo no estado começou em terra e hoje é o único estado brasileiro com grande produção onshore e offshore.
A onda de desinvestimentos da Petrobras levou à entrada das operadoras independentes nesse mercado, tais como Seacrest, Capixaba Energia, Mandacaru, operadoras influentes no Norte Capixaba, e a expectativa de que a produção terrestre vai triplicar nos próximos anos se confirmou, segundo Rafaele Cé, presidente da Rede Petros ES.
As perspectivas em torno do setor onshore e as oportunidades de negócios existentes no segmento tem despertado a atenção dos empresários e atraído investimentos para a região de São Mateus, focada na produção terrestre.